Guia rápido para não se sentir estranho num baile de tango

Para nós brasileiros, frequentar um baile de tango em Buenos Aires pode parecer algo simples, mas há muitas diferenças entre um baile aqui e lá. São frequentes as gafes cometidas em terras porteñas por bailarinos turistas iniciantes na arte de se dançar tango.

Toda a cultura que envolve o tango argentino foi construída e embasada em  valores e costumes típicos da época em que ele surgiu e que permanecem até hoje. Quando saímos para dançar em uma milonga (aliás, para aqueles que não sabem, a milonga é como se chama o baile em que dançamos tango), nós ainda nos deparamos com estes mesmos códigos e etiquetas do início do século passado.

Antes de entrarmos no assunto acima mencionado, apenas para esclarecer, é importante dizer que o tango não é o único ritmo a ser dançado numa milonga. Neste baile, é esperado que se toque também vals (a valsa, chamada erroneamente por nós brasileiros de tango-valsa, mas vamos deixar este assunto para um futuro próximo) e milonga (ritmo homônimo ao baile).

A Chegada ao baile

Bem, tudo se inicia na chegada ao salão, quando todos os bailarinos, muitos com os respectivos “saquinhos” de sapato a tira-colo (pois ninguém quer estragar as solas dos sapatos ou sandálias na calçada a caminho da milonga) são recebidos pelo organizador do evento ou alguém responsável pela função, que os posicionarão numa mesa de acordo com a sua popularidade.  É normal, que as mesas de pistas estejam reservadas para milongueiros reconhecidos ou para clientes frequentes da casa.

O Convite para dançar

 Após calçar o sapato, a busca começa. O homem começa a observar, buscando mesas ocupadas por mulheres desacompanhadas e atentas a pista e aos cavalheiros que estão caminhando pelo salão. Quando o par desejado é encontrado, começa-se uma busca pelo contato visual daquela mulher. O homem ao ver que a mulher olhou também para ele faz um ligeiro gesto com a cabeça para baixo, como quem diz: “quer dançar?” Esta atitude é chamada de cabeceo.

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O cabeceo é um costume muito característico e especial na cultura do tango, pois proteje ambos, o homem que convida para dançar e a mulher que é convidada. Caso ela não queira dançar com ele, basta apenas desviar o olhar e fazer de conta que nada aconteceu. O cavalheiro que teve o convite silencioso recusado não se sente constrangido e continua a busca por alguém que queira dançar com ele. Supondo que a dama que recebeu o gesto convidativo para dançar realmente o queira, basta retribuir a ação com o mesmo meneio de cabeça e se encontrar com o cavalheiro na pista.

Durante a dança

Quando começarem a dançar, já é esperado que aquela pequena história que acontecerá entre os dois tenha a duração de uma tanda. Tanda nada mais é que uma sequência musical, geralmente formada por 3 ou 4 temas. Estas seleções são montadas com músicas de uma mesma orquestra e até de um mesmo álbum. Se uma tanda é de tango, já se sabe que não tocará nenhuma milonga ou vals naquela seleção.

O casal dançará deslocando-se pelo salão obrigatoriamente no sentido anti-horário. Este deslocamento chama-se ronda. Entre uma música e outra da tanda, é habitual que homem e mulher parem um pouco no meio da pista e comecem uma breve conversa. Este é um dos hábitos mais singulares da milonga, pois o silêncio da dança, intocado até então,  de repente é invadido por um grande burburinho. Todos estão de pé, parados, conversando. O som da conversa vai diminuindo, voltando ao silêncio total, e logo, todos os casais estão abraçados novamente, caminhando totalmente entregues ao 2×4.

CIERRE DEL CICLO MILONGUEANDO EN EL BAR - Casa de las Culturas

Ao término da tanda, começa a cortina (pequenos trechos musicais, com cerca de 15 ou 20 segundos, de um estilo completamente diferente, como um rock, uma salsa ou o que o DJ puder imaginar), que diz aos casais que podem retornar à mesa e aguardar a próxima seleção que virá, para então começar tudo de novo.

É claro que ninguém é obrigado a dançar uma tanda até o seu fim. Mas saiba que, caso o bailarino ou bailarina queira retornar à mesa antes da chegada da cortina, este estará dizendo à sua parceira ou parceiro que a dança não estava prazerosa.

Num primeiro momento, tantos códigos podem parecer complicados. Mas, eles ajudam no bom funcionamento do baile e preservam um certo romantismo, qualidade muito especial num mundo tão cético como o que vivemos hoje.

Agora, você já está preparado para encarar uma milonga, basta preparar o seu sapato ou sandália e aprender os primeiros passos. Vamos todos milonguear!

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